TEXTO PARA DOMINGOS MONTAGNER.- DE LUIZ GUSTAVO
TEXTO PARA DOMINGOS MONTAGNER.- DE LUIZ GUSTAVO
“Acho que alguém disse aí na plateia que eu me desequilibrei. Não, eu não me desequilibrei. Eu tava brincando, não me desequilibro nunca. Eu brinco todas as noites com equilíbrio porque eu sou de circo. É sempre assim, eu sempre entro no picadeiro brincando, abrindo uma porta que dá para o infinito, iluminado por milhões de candelabros. Eu brinco, eu sou palhaço. Eu brinco, danço, eu ondulo, eu brinco com as crianças, eu quebro meu coração em direção ao risco porque eu sou de circo. Eu brinco com a vertiginosa audácia do trapézio. E lá no alto, no topo da lona, no meio de um salto mortal, sou capaz de roubar um holofote porque eu sou de circo. Sento no cavalo como quem senta numa poltrona, ando na corda como quem anda numa avenida, ando de bicicleta sem guidão, sem assento, sem pedal, sem roda. E com as mãos, eu dinamizo dezessete laranjas de tal forma que elas mais parecem estrelas iluminando o firmamento, porque eu sou de circo. Não, eu não me desequilibro. A alegria me alarga e eu vou do mineral a Deus. Como pode alguém achar que eu me desequilibro? Minha vida começou aqui nesse picadeiro e aqui ela não vai terminar nunca porque ela é maior que eu, só não é maior que meu circo.”
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